CELULOIDE SECRETO, OUTROS VIESES! Este vagão do Expresso do Oriente, sob o comando do Prof Ms João Paulo de Oliveira, um insulso ser vivente em busca do conhecimento e do bem viver sem véus, tem como escopo versar sobre existencialismo, cultura e memória, alicerçado no viés da filósofa Hannah Arendt: "As ideias se estilhaçam frente à realidade". Como é aterrorizante ter ciência da dura realidade de viver sob a égide do "Mito das Cavernas"...
O Todesca está na janela apreciando a paisagem...
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
D. Pedro II e o jornalista Koseritz!!!!!...
Caros(as) confrades!
Estou inconformado, porque perdi a oportunidade de adquirir com desconto o certamente precioso e imperdível livro "D. Pedro II e o jornalista Koseritz", na "21ª Bienal Internacional do Livro"!!!!... Agora terei que desembolsar o preço normal na Livraria Cultura da Avenida Paulista!!!!... Ó dia!!!!... Ó céus!!!!... Ó vida!!!!... Ó ano!!!!...
A seguir transcrevo o que encontrei no site:
http://www.caiozip.com/trechoentrevis.htm
que versa sobre este palpitante livro:
"Dom Pedro II e o Jornalista Koseritz
Na vastidão do mar brasileiro vem acontecer o
encontro de Caio Zip, o viajante do tempo,
com o jornalista teuto-gaúcho Koseritz.
Unidos, eles estão envolvidos numa grande missão:
uma entrevista exclusiva com Dom Pedro II.
Escrito por Regina Gonçalves e Regis Lima de Almeida Rosa.
Nesta parte desta ficção histórica, "Dom Pedro II e o jornalista Koseritz", temos uma ampla entrevista, em que os diálogos tornam-se bastante densos e são apoiados em uma intensa pesquisa baseada em fontes da época. Essa parte do livro visa elucidar questões fundamentais de nossa história, que nos fariam entender melhor o Brasil de hoje. A ideia é oferecer uma visão crítica na forma de debates entre os personagens principais. São questões relacionadas à imigração, cultura, educação, desenvolvimento, escravidão, guerras, dívidas internacionais, impostos, democracia e liberdade de imprensa.
Quem foi Carlos Koseritz ?
Karl Von Koseritz
Na série Caio Zip, o viajante do tempo entra no espetáculo do Império de Dom Pedro II e acaba conhecendo o jornalista Koseritz, e mais sua filha Carolina, que tem a missão de entrevistar Sua Majestade na corte do Rio de Janeiro.
Karl Julius Christian von Koseritz, ou como ele gostava, Carlos Koseritz, nasceu em 3de fevereiro de 1831 em Dessau.
Jornalista e político, lutou pela abolição da escravidão e se destacou na defesa dos direitos políticos dos imigrantes. Também teve destaque como escritor, professor e agente da imigração.
Ainda adolescente já começa a demonstrar seu espírito engajador ao participar em Berlin de uma barricada a favor de uma constituição à Prússia. Alista-se aos quinze anos como soldado mercenário para lutar nas batalhas entre os condados da Dinamarca.
Seu pai, um barão, interna o agitado rapaz no Ginásio de Wittenberg, mas não é o suficiente para amainá-lo.
1850 Movido pelas imagens de um desbravar uma região exótica decide embarcar para o Brasil como marinheiro do navio Diana. Foi uma estadia curta, mas que formou raízes naquele jovem para sempre.
1851 Chega com os Brummer - cerca de 1800 soldados mercenários alemães, contratados pelo Governo Imperial Brasileiro para lutar na Campanha contra Juan Manoel Rosas, o ditador da Argentina. Ainda veio como marinheiro, mas não por muito tempo.
Koseritz se juntou aos soldados, vai para o Rio Grande do Sul e dali segue para um quartel em Pelotas.
A Maioria desses mercenários alemães não chegaram a combater porque, quando alcançaram o território, a guerra já tinha terminado. A vitória do Brasil foi mais diplomática do que militar nesse conflito, instigando os caudilhos das províncias argentinas e financiando o exército uruguaio, que derrotaram Rosas na batalha de Monte Caseros, em 1852.
Muitos desertaram com a conivência das autoridades. Cerca de vinte por cento morreram de frio, por desnutrição ou doenças decorrentes da Carência alimentar. Apenas 450 aguardaram o término do contrato engajados no exército. Eles permaneceram no Rio Grande do Sul, atraídos pelos núcleos alemães no Sul e pelas novas colônias que se abriram depois de 1850, onde receberam terras. Os Brummer exerceram influência nos locais onde se estabeleceram, trabalhando como comerciantes, diretores de colônias, agrimensores, professores ou agricultores.
Koseritz é um dos que se dispersa e vive sem dinheiro, aceita emprego como cozinheiro, jornaleiro e acaba ficando doente. É internado como indigente no hospital municipal.
Restabelecido, regulariza sua situação no país, dedica-se a aprender português e tornar-se professor particular dando lições de alemão, francês, inglês, gramática da língua vernácula, aritmética comercial, escrituração mercantil, matemáticas, história e geografia.
Casa-se co a filha de um estancieiro, e emprega-se como contabilista e mais tarde correspondente do jornal Der Deutscher Einwanderer (O imigrante alemão) de Porto Alegre
1856, na cidade de Pelotas atua como professor do Colégio União, educandário dirigido por seu amigo Telêmaco Bouliech.
Publica contos, peças infantis e um livro “Resumo da História Universal”
1857, transfere-se para Rio Grande onde passa a ministrar aulas no Colégio de Thibaut, além de fundar e dirigir o Ateneu Rio Grandense, nessa mesma cidade, instituição de ensino primário e secundário.
Em março de 1858, é contratado para ser redator do jornal O Brado do Sul, jornal diário, propriedade de Domingos José de Almeida; que exerce até outubro, quando é impedido de continuar trabalhando pela sua condição de estrangeiro.
Nesta ocasião sustentou acirrada polêmica com Isidoro Paulo de Oliveira, que escrevia para O Noticiador, segundo jornal mais antigo da cidade. Tão tensa foi essa "troca de ideias" que um dia Koseritz sofreu brutal espancamento, na rua, por três homens a cavalo, sendo recolhido à Santa Casa com ferimentos graves.
1859 Reassumiu suas funções em março e se naturalizou brasileiro. Sofreu vários atentados políticos graças a sua voz que não se calava contra o partido dominante.
1863 Mesmo tendo conquistado fama e reconhecimento, estando na direção do Ateneu, é acusado de “perverter a juventude” por suas ideias liberais por parte da população e da imprensa oposicionista.. Os jornais “Diário de Rio Grande” e “O Comercial”, durante meses abordaram o caso. Por sua vez, o “Echo do Sul”, de seu amigo Bernardino de Moura, sai em sua defesa.
1864 Frente a tal situação e sofrendo perseguições, transfere-se definitivamente para Porto Alegre. Editou vários jornais e tornou-se porta voz dos imigrantes alemães, sendo mais tarde eleito deputado à Assembléia Provincial. Nem por isso deixou de estar vinculado ao ensino, pois continuou a oferecer os seus serviços como professor particular.
Sofre vários atentados políticos graças a sua voz que não se cala contra o partido dominante, Os Progressistas.
Sua vida na imprensa é extensa, pois ele funda vários jornais durante sua vida, especialmente A Gazeta de Porto Alegre.
1870 é condenado injustamente à prisão por delito de imprensa.
Publica “Resumo de Economia Nacional"
1881 Lança o seu grande jornal: "Koseritz Deutsche Zeitung" (Jornal alemão de Koseritz), 1883 é eleito com maioria de votos para a Assembleia Provincial. Destaca-se como orador e incentivador da integração entre teutos e lusos.
Nessa época viaja para o Rio de Janeiro sendo recebido pelo Imperador D Pedro II . Nestas ocasiões, sempre tem a preocupação de relatar as condições de vida que se encontram os imigrantes alemães no sul e defender com que fosse estimulada a imigração de pessoas livres que trouxessem consigo a semente do progresso para ser plantada na agricultura, na indústria e no comércio. Todos que pudessem desenvolver o país que aprendeu a amar como sua pátria.
Koseritz prossegue esta a viagem até São Paulo.
Esta viagem foi descrita com todos os detalhes pelo jornalista, que se achava no Rio como deputado provincial, em crônicas no seu jornal "Koseritz Deutsche Zeitung". Mais tarde tornou-se o livro "Imagens do Brasil" traduzido para o português por Afonso Arinos de Mello Franco. Este livro relata com grande riqueza os costumes e as preocupações políticas e sociais da época. Um diário muito esclarecedor. É interessante ler, por exemplo, sua impressão sobre sua viagem de trem entre Raiz da Serra e Petrópolis, pouco tempo depois da linha ser inaugurada, sendo que ele ainda percorreu um trecho da Estrada de Ferro Mauá.
Mais detalhes sobre essa emocionante aventura na página “A história dos Trilhos”
1889 Lá vem a República
Monarquista convicto, pois acreditava que o Brasil não funcionaria com a implantação de uma República, é preso a 14 de maio de 1890 e mantido em prisão domiciliar sob a mira das armas.
Apesar de se encontrar sob terrível pressão, Koseritz ainda se preocupa em colocar tudo que lhe acontece no seu último artigo horas antes de morrer, de um súbito ataque cardíaco, aos 56 anos de idade.
INÍCIO DO ARTIGO
“Antes de partir para a viagem que tenho de encetar, forçado pelo estado de saúde de pessoas de minha família, que sofreram imenso abalo moral com a minha violenta e arbitrária prisão e com os sucessos que à mesma se seguiram cumpro um sagrado dever, restabelecendo a verdade dos fatos vilmente deturpados pela FEDERAÇÃO, que, depois de haver conseguido a minha ilegal detenção, veio ainda cuspir o vilipêndio sobre a vítima de sua covarde vingança escarnecendo dela e atribuindo a minha prisão ao humanitário desejo de salvar minha vida, ameaçada pela INDIGNAÇÃO POPULAR e por inimizades particulares.
O público vai ver como desempenharam-se dessa tarefa os indivíduos encarregados da execução das ordens emanadas na manhã de 14 de maio se 1890, do escritório da FEDERAÇÃO.
Passo a narrar minuciosamente tudo quanto ocorreu...
Acabava de almoçar, quando bateram à porta da rua que estava fechada, e, indo uma das minhas filhas abri-la, recuou com um brado de terror ao ver pessoas desconhecidas,acompanhadas de diversas praças armadas.
O senhor está preso!
Preso, como?
Mas por ordem de quem?
Por ordem do governador!
Quem é este governador?
O senhor general Júlio Anacleto Falcão da Frota! O senhor general foi aclamado pelo povo e pela força pública, que depôs o Sr Silva Tavares; estabeleceu-se afinal a verdadeira república, até aqui só tivemos a anarquia. Mas a visa do preso está garantida porque a república é generosa.
Só um grande rebelde, sentenciado a morte, ou algum malvado assassino, candidato à forca, pode ser guardado como eu fui no primeiro dia, por seis soldados de carabina Spencer em punho, ficando um deles sentado a seis passos de distância de minha pessoa, com a carabina apontada para mim. E isto em presença de minha mulher e de quatro filhas, desfeitas em pranto e julgando o seu pai morto ao primeiro movimento que fizesse.
FINAL
Desde 15 de novembro ocupei meu posto de honra na direção da imprensa do meu partido, sem um momento de hesitação, sem a ideia de um receio, cumprindo o meu dever em toda a sua extensão.
Se hoje, temporariamente me afasto deste posto não é porque me faleça o ânimo para a luta, nem porque desespere do futuro desta heróica terra, que incólume atravessará todas as provações que acima do meu dever de cidadão, está o meu dever de pai, que me obriga a precaver a vida de fracas meninas, já profundamente afetadas por contínuos sustos e terrores, principalmente nos últimos dias de prisão, que comigo partilham, contra novos abalos.
Não fujo, não abandono meu posto de combate, e a ele voltarei, logo que as circunstâncias o permitirem.
Porto Alegre 30 de maio de 1890 C. V. Koseritz.
(Horas depois morre de ataque cardíaco.)
CONCLUSÃO
A atividade marcante foi sem dúvida o jornalismo, mas também desbravou terrenos atuando como professor, literato, homem da ciência, como sua coleção de etnias e também como político. Tudo isso sempre com a determinação de um brasileiro que acabou se tornando, atento aos problemas do país.
Abolicionista convicto, logo que se casou, Koseritz libertou os escravos trazidos como dote do casamento com Zeferina Barbosa. Engajou-se muito na abolição da escravatura, ao lado da filha Carolina, contribuindo para que, em 1884, Porto Alegre se tornasse uma das primeiras cidades a libertar seus escravos. Nesse sentido, ainda no prefácio de Afonso Arinos de Melo Franco:
1 Sobre a data de nascimento de Koseritz, existem divergências nas bibliografias consultadas. Seguimos então uma autobiografia afirmando que, em 1852, tinha a idade de 22 anos, razão pela qual optou-se por esta sendo a data mais precisa.
Carolina Von Koseritz
Carolina nasceu em 23 de outubro de 1865 no Rio Grande do Sul.
Filha de Carlos Koseritz herdou do pai jornalista alemão o gosto pelas letras o que a fez ser a mais próxima das três filhas, pois muito jovem começou a secretariar seu pai ao mesmo tempo em que estreava com seus contos e suas traduções como do escritor Goethe.
No jornal do Comércio publicou “O grito da Lareira”, conto de Charles Dickens. Seus contos “A vingança das Flores, “A flor fenecida” “ O leito nupcial” foram publicados no Jornal do Comércio. Prossegue com seus trabalhos e escreve “Episódio obscuro” abordando aspectos da revolução de 1935.
Após a morte de seu pai em 1890, após o confinamento domiciliar imposto pelos a favor da república recém instalada defende com um espírito de pura coragem o nome de seu pai ultrajado pela Federação. Seu repto saiu nos jornais da Capital nacionais e de língua alemã o qual seu efeito imediato foi calar os opositores.
Bibliografia
KOSERITZ, Carl von. Imagens do Brasil. Tradução de Afonso Arinos de Mello Franco. 1941. Biblioteca Histórica Brasileira, Livraria Martins Editora. Texto Original "Bilder aus Brasilien", editado na Alemanha em 1885.
Memórias de Brummer -- Flores, Hilda Agnes .
Trecho da ENTREVISTA COM D. PEDRO II
Koseritz: Majestade, o que pode ser feito para melhorar a educação no Brasil? Aqui amargamos a lamentável situação de que mais de quatro quintos da população ainda é analfabeta.
Caio Zip, o jovem viajante do tempo: Caramba! Tudo isto já nesta época! Como pode? Será que nunca vou ver o governo se esforçar em oferecer uma boa educação pública? Mas o que este governo fez ou fará? Pra que ele serve afinal?
Koseritz: Calma aí, rapaz! Todos sabem que o imperador se envolve pessoalmente quando se trata de educação.
D. Pedro: Deixa o rapaz, Koseritz. Talvez ele tenha razão. O fato é que não tive sucesso em convencer as pessoas a dar prioridade à educação, apesar do meu esforço, do meu exemplo. O problema é que não basta um punhado de pessoas com esse objetivo, é preciso o envolvimento de toda a estrutura legislativa e executiva do país, na capital e nas províncias, e a cooperação e cobrança constante da sociedade nesse sentido.
Koseritz: Mas, infelizmente isso não ocorre.
D. Pedro: Ao contrário, o que os políticos e outros setores influentes fazem é achar curioso o envolvimento do imperador nesse assunto. Eles não levam a sério as minhas ações em prol da educação e da ciência e, muitas vezes, esses políticos e os jornais fazem chacota das minhas ações. Enfim, apesar do meu empenho, não consegui convencer, mas talvez cada país tenha o seu ritmo e um dia chegará a vez do Brasil, um dia a sociedade brasileira estará suficientemente amadurecida para levar tudo isso a sério, mas espero que não tenhamos que esperar cem anos para acordarmos para esse assunto.
Koseritz: Majestade, o notável crescimento da Argentina desde o final da guerra do Paraguai pode ser atribuído também ao esforço na área da educação?
D. Pedro: Certamente, mas antes disso atribuo esse crescimento à união do país por meio de grandes homens que tiveram a oportunidade de serem presidentes democraticamente eleitos, e que foram notáveis estadistas, em vez dos caudilhos tão comuns na América Latina.
Koseritz: E tivemos nossa participação nessa união, pois lutamos junto com Mitre e Sarmiento, que depois foram presidentes da Argentina, contra o caudilho Rosas em 52.
D. Pedro: Saibam que a figura política que eu conheci pessoalmente e que mais me impressionou em matéria de educação foi Sarmiento. Ele visitou o Rio por três semanas na época que estava banido da Argentina de Rosas. Ah, que prazer foi conversar com esse homem! Todo dia conversávamos sobre vários assuntos e ele me explicava detalhadamente o seu tratado de educação, intitulado "De La Educación Popular". Para Sarmiento um país não tem futuro sem educação.
Caio: Mas este Sarmiento era responsável pela educação?
D. Pedro: Ele foi presidente da Argentina no período 68 a 74 e aplicou tudo o que dizia em seu livro, espalhando escolas pelo país, motivando os professores e, assim, alfabetizando de vez o seu povo e preparando as bases para uma nação desenvolvida no futuro.
Koseritz: De fato, a República Argentina está se tornando um país exemplar. O percentual de sua população frequentando a escola é cerca de quatro vezes o percentual do Brasil. Creio que dentro de mais uma ou duas gerações a Argentina estará entre os 10 países mais ricos do mundo. E o Uruguai vai no mesmo caminho.
Carolina Koseritz: É realmente lamentável a situação da educação no Brasil.
Koseritz: O problema capital do Brasil é a difusão da cultura pela instrução e educação literária. Como Majestade compreendeu desde cedo, liberdade não vai de mãos dadas com a ignorância sem degenerar em anarquia. Para um povo analfabeto a formação política sobre a qual se apoia um governo parlamentar é como a roupa de um adulto no corpo de um menino de dez anos, que só serve para lhe confundir os movimentos.
D. Pedro: Mas, o senhor crê que temos feito algum esforço para solucionar esse grave problema?
Koseritz: O maior esforço vem de Majestade que se orienta, assim, para a melhoria da instrução e o alargamento da cultura geral. Por isso Majestade protege todas as sociedades e ligas pedagógicas e científicas, por isso promove a reunião de um congresso pedagógico unido a uma exposição da mesma natureza, por isso concede sempre e de bom grado decorações e títulos para premiar serviços relacionados com a instrução e por isso, finalmente, comparece pessoalmente a todos os concursos culturais e educacionais abertos. Sim, Majestade emprega o maior esforço, em dinheiro e tempo, no levantamento da instrução e ampliação da cultura geral. Tudo isso é muito digno do nosso reconhecimento.
D. Pedro: E o senhor teve a chance de assistir a exposição pedagógica?
Koseritz: Eu já tive a oportunidade de ver a exposição pedagógica com as representações de vários países na outra vez que visitei o Rio. Sei que a última exposição teve grande sucesso, mas se terá resultados práticos é outra questão cuja solução ainda está em aberto.
D. Pedro: Como assim?
Koseritz: Para as escolas do governo e os respectivos professores não haverá nenhuma utilidade. Esses senhores e senhoras se apresentam ali com seus alunos, que atravessam a sala em fila dupla em passo de ganso de olhos baixos, sem parada e sem nada observar. Os professores também não veem nada sem interesse. Como o país tem 6 mil escolas públicas e uma coleção completa para a instrução não custa menos de 500$000 por escola, então seria necessária uma despesa de 3 mil contos por ano, visto que os objetos no decorrer do ano se estragam ou ficam fora de uso. Este é um encargo que o governo não pode assumir e assim as escolas públicas nada aproveitarão da exposição. Mais útil é ela para os colégios particulares e os seus diretores que podem estudar a forma de obter numerosos novos instrumentos de ensino.
O imperador ficou em silêncio, triste e pensativo até que finalmente quebrou o voto de silêncio.
D. Pedro: Koseritz, o senhor levantou um ponto que eu não tinha considerado.
Koseritz: Só estava a querer mostrar a minha visão, pois já tive a experiência de ser um educador. Por esta razão, posso afirmar que considero o Colégio Pedro II um estabelecimento modelar.
Finalmente veio à tona um sorriso no rosto do imperador.
D. Pedro: Os meus netos estudam lá!
Caio: Majestade, Koseritz tem razão. O colégio é ótimo e os professores de lá são muito bons.
D. Pedro: Mas como você sabe se não estuda lá? Você não veio de fora, rapaz?
Caio: Bom... é que... tenho alguns amigos que estudam lá e eles falam muito bem do colégio!
Koseritz: De fato o estabelecimento conta com professores notáveis como Tautphaus, Schiefler, Carl Jansen e Sílvio Romero, mas acho que a maior parte não se dedica como deveria.
D. Pedro: Agora, o senhor está sendo severo com o colégio modelar. É nas outras escolas que a situação é crítica. Há problemas, mas tudo vem da falta de recursos... é difícil conseguir professores dedicados com tão poucos recursos. Nosso país é pobre e os recursos são poucos, mas o pior é que há uma briga enorme entre as diversas correntes no parlamento na hora de definir o orçamento da nação. Na partilha dos recursos, a educação acaba sendo prejudicada.
Koseritz: Este assunto me interessa muito. Como disse, fui um educador, um professor primário nos meus primeiros anos de Brasil e até abri uma escola. Por isso, guardei um manifesto, de 1871, feito por professores públicos primários daqui da corte, que chamavam a atenção para as difíceis condições de trabalho.
D. Pedro: Conheço este manifesto. Tenho aqui uma cópia...
O imperador remexeu as gavetas de uma cômoda no canto da sala.
D. Pedro: Achei. É este aqui, não? Ouçam o que diz:
"Em uma época de patriotismo e de reformas, quando parece despontar nos horizontes da pátria uma nova era de prosperidade, uma classe inteira de servidores públicos, classe talvez a mais importante de servidores do estado, vive oprimida, ludibriada e escarnecida, e, o que mais é, humilhada pela injustiça com que os poderes do estado a apelidam constantemente de ignorante".
Koseritz: Esse mesmo. Se não me falha a memória, mais à frente, eles argumentam que a ignorância no Brasil não é uma característica da sua classe, mas "uma espécie de epidemia, que não respeita muitas vezes as mais elevadas posições".
Caio: Puxa, como esse problema é antigo no Brasil.
D. Pedro: Antigo? Bom só faz 14 anos, mas para um jovem receio que isto já seja realmente antigo. Bem, Koseritz, eles se sentiam desprezados com os baixos salários, que os condenavam à miséria. A Inspetoria Geral de Instrução Primária e Secundária queria demitir os signatários, mas eu não deixei, pois defendo o direito de livre manifestação, ainda que as críticas atinjam o meu reinado.
Koseritz: E os professores continuam sendo pouco valorizados pela sociedade. É inconcebível que a remuneração de um professor primário seja uma das mais baixas entre os funcionários públicos. Deveria ser um privilégio ser professor primário, no meu entender a profissão mais nobre dentre todas. Creio que eles deveriam ter uma remuneração pelo menos na média das demais categorias de funcionários, mas na dura realidade é uma das menores.
D. Pedro: Sim... Com a responsabilidade de formar as cabeças das futuras gerações, eles deveriam ter os melhores salários.
Koseritz; Eu sei que o imperador faz o possível. Mantém na Quinta da Boa Vista a sua própria custa uma escola particular dirigida por três professores e frequentada por 200 alunos e alunas pobres. Soube que possui todo o material moderno e uma biblioteca própria, além de curso noturno para os adultos da colônia de famílias para a qual Majestade forneceu terra e teto. Sei que o imperador vive nas condições mais modestas, como nenhum presidente de pequena República seria capaz de aceitar, e sei que dos 800 contos da sua lista civil gasta mais de 700 com obras de caridade, dispêndios ligados à instrução pública e bolsas de estudo para apoiar novos talentos.
D. Pedro: Se eu gastasse com a monarquia a minha lista civil poderia viver com grande luxo. Ainda ontem, quando se discutia o orçamento que deve ser apresentado às câmaras, desejou-se, em face da necessidade de economias forçadas, diminuir a verba para a instrução. Prefiro cortar da minha verba e não ganhar nada do que cortar a verba para a instrução pública. Perdi o sono por incontáveis noites de tanto que me afligi com essa e outras questões políticas. Por mais que eu governe, todo o esforço parece fadado ao esquecimento.
Koseritz: Isso me faz lembrar da minha visita à Biblioteca Nacional há dois anos.
D. Pedro: Como assim?
Koseritz: Quando a família real fugiu para o Brasil escapando de Napoleão trouxe consigo o que os arquivos e bibliotecas de Portugal possuíam de mais raro. Quando aqui chegou, deixou peças muito valiosas guardadas em caixas fechadas e se esqueceu delas até que Dom João voltou a Portugal e deixou Dom Pedro I em seu lugar. Finalmente as caixas foram abertas, mas como não havia gente especializada, jogaram as gravuras ali guardadas num canto como se fossem trapos durante 50 anos. Somente há poucos anos ocorreu ao antigo bibliotecário observar mais atentamente aqueles papéis e trabalhos expostos à poeira e umidade e fazer a grande descoberta. Milhares de gravuras e volumes de autoria de artistas portugueses, franceses e holandeses dos séculos 17 e 18. O doutor Brum, conhece?
D. Pedro: O doutor Brum, inteligente e culto chefe da seção. Conheço-o muito bem.
Koseritz: Pois então, ele me mostrou a preciosidade, está salvando a coleção do desaparecimento ao começar a restauração, mas ainda tem muitos anos pela frente. Já ia embora quando abri uma gaveta e descobri um novo tesouro. A primeira folha que vi foi um esboço de cabeça de mulher de uma beleza tão ideal que logo pensei nos quadros de Rafael. Vejam só! Não é que quando fui ver a assinatura da obra lá estava a assinatura de um dos maiores mestres italianos, Rafael Sanzio! E aí me perguntei: como isto está aqui perdido? E a resposta como sempre foi a mesma: A ignorância tratou de abandoná-la ao esquecimento, quase a sentenciando ao desaparecimento, mas felizmente alguém de alma culta que enxergou seu real valor cuidou de restaurá-la. O verdadeiro esforço pode levar algum tempo para se fazer reconhecido, Majestade, mas com certeza emergirá na forma de um grande tesouro.
D. Pedro: Eu passaria de bom grado o resto da minha vida na companhia dessas obras e volumes, sem jamais reclamar.
Koseritz: Então somos dois."
Estou com comichão para ler este livro!!!!... Fico a divagar o deleite inefável que seria estar no Gabinete Real na condição de súdito, que foi convidado pelo nosso venerado Imperador dom Pedro II, para ser partícipe da desveladora entrevista!!!!!...
Max!!!!!... Traga meus sais centuplicado!!!...
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Olá meu querido.
ResponderExcluirMenino você me deixou curiosa em ler o livro,afinal é minha paixão.
Você bem que poderia ser um escritor, inteligência, competência,ética e bom senso sei que possue,já pensou em uma biografia,ulalalalalala,mas não vale pular nenhuma linha.Político você ganharia fácil, pois deve falar tão bem como escreve,mas só tem um probleminha, não é sua praia, lá não entra pessoas honestas, de bom coração, sensatas,inteligentes e amáveis como você.
Beijossssssssssssssssss.
Caríssima amiga Ana Célia de Freitas!
ResponderExcluirComo é auspicioso ler suas sempre gentis mensagens, que além de deixar-me em estado de deleite, denotam que você é uma pessoa maravilhosa, incapaz de comenter um ato bárbaro!!!!...
Afetuso abraço! Saudações agradecidas!
Até breve...
João Paulo de Oliveira
Diadema-SP
Caro amigo!
ResponderExcluirQue ideia supimpa publicar uma entrevista de D. Pedro II ao jornalista Carlos Von Koseritz e, ainda mais, versando sobre educação!
Também fiquei com muita vontade de adquirir este livro, certamente precioso para apreciarmos as muitas qualidades e a vasta cultura do nosso último soberano, um amante das letras, das artes e da ciência, que viveu e enxergou muito além do horizonte!
Caríssima amiga Nívia Andres!
ResponderExcluirSeria um deleite inefável se tivéssemos na contemporaneidade, no nosso amado Reino digo República, um governante com o perfil do nosso venerado Imperador D. Pedro II !!!!...
Caloroso abraço! Saudações Pedronianas!
Até breve...
João Paulo de Oliveira
Diadema-SP