Caros(as) confrades!
Apesar da minha incredulidade aprecio sobremaneira visitar locais sacros por conta das obras de arte ali encontradas, bem como, no caso da Cripta da Catedral da Sé, visitar jazigos de clérigos que deixaram marcas indeléveis por onde passaram!!!!... Considero uma visita imperdível para os(as) confrades que também têm o hábito de flanar no centro velho da minha amada capital paulista!!!!...
A seguir transcrevo uma reportagem, que versa circunstancialmente sobre a Cripta da Catedral da Sé, publicada no periódico Folha de São Paulo, na data apontada no final da reportagem.
Sob altar-mor da catedral da Sé, cripta exibe esculturas e tumbas
ROBERTO DE OLIVEIRA
da Revista da Folha
Seu morador mais ilustre tem um nome curioso: "príncipe da terra", em tupi. De terra, parece que entendia. Foi ele quem escolheu o terreno onde se ergueu um dos mais importantes símbolos de São Paulo, a catedral da Sé, antes mesmo da fundação da cidade. Nada mais justo que tivesse lugar cativo ali.
O cacique Tibiriçá acumulou ainda outros títulos em vida e pós-morte. Ele foi um dos primeiros índios a ser catequizado pelos jesuítas. E estreou, com seus restos mortais, a cripta subterrânea da catedral Metropolitana. Seu túmulo é o mais procurado por católicos, crentes de todas as religiões, agnósticos e ateus.
Arcos com tijolos no teto da cripta da catedral da Sé, que pode ser visitada com o acompanhamento de monitores de quarta a segunda
Arcos com tijolos no teto da cripta da catedral da Sé, que pode ser visitada com o acompanhamento de monitores de quarta a segunda
Escondida a alguns palmos abaixo, por onde passa a linha imaginária do trópico de Capricórnio, bem no coração da cidade, a cripta é uma verdadeira igreja subterrânea.
São duas entradas, à direita e à esquerda, praticamente escondidas, debaixo do altar-mor de um dos maiores templos góticos do mundo --a Sé tem capacidade para até 8.000 pessoas.
Mas apenas uma parcela pífia dos visitantes que circulam pela catedral diariamente (cerca de 5.000 fiéis e infiéis) se aventura em conhecer a cripta. Aproximadamente 70 pagantes, a expressiva maioria formada por turistas norte-americanos, asiáticos e europeus, percorrem o mausoléu diariamente, com exceção das terças, quando o local é fechado ao público.
Não importa a religião. Até mesmo os mais céticos dos visitantes acreditam que ali debaixo exista uma passagem secreta que liga a catedral a outras duas igrejas paulistanas, a de São Francisco e a de São Bento, alimentando uma das mais folclóricas lendas urbanas do centro histórico. "Tem gente que bate na parede para ter certeza de que ela não tem um fundo falso", conta a guia Vera Regina Gomes, 50.
Quatro anos atrás, quando começou a monitorar as visitas, Vera vivia com as canelas roxas, de tanto tropeçar na coluna localizada à frente do painel de iluminação da cripta. "Dava até um medinho", lembra ela. O caminho continua sendo feito às escuras, mas a guia já se adaptou à vida do salão subterrâneo.
Lá embaixo, as escadas, assim como as colunas, são de granito. O piso é de mármore de Carrara, em preto-e-branco. O teto, repleto de arcos com tijolos, segue o mesmo estilo gótico da Sé.
Câmara funerária construída no ano de 1700, vista a partir do altar da cripta localizada no subsolo da catedral da Sé, em São Paulo
Câmara funerária construída no ano de 1700, vista a partir do altar da cripta localizada no subsolo da catedral da Sé, em São Paulo
Bem atrás das escadas, há uma câmara funerária entre o mausoléu, em relevo de bronze, de Tibiriçá, e de Diogo Antônio Feijó, ministro da Justiça e regente do Império. Construída em 1700, ela foi usada na cerimônia de chegada dos restos mortais do "morador" mais novato da cripta, o padre Bartolomeu de Gusmão (1685-1724). O inventor de um tipo de balão conhecido como passarola foi transferido do Museu da Aeronáutica para lá, em 2004.
Em volta de toda a área das naves encontram-se as câmaras mortuárias de 16 sacerdotes que atuaram como bispos e arcebispos da cidade de São Paulo.
A grande maioria foi levada para lá na década de 30. Os túmulos estão dispostos de forma cronológica de falecimento. Nem todos os jazigos estão ocupados. Ainda restam 14 monumentos fúnebres vagos.
Nas duas laterais centrais da cripta, duas esculturas em mármore: Jó, o afligido do Senhor, e São Jerônimo, ambas assinadas por Francisco Leopoldo, irmão do arcebispo dom Duarte Leopoldo e Silva, responsável pelo início das obras da Sé. Dom Duarte também está enterrado no mausoléu.
A cripta quase foi destruída pela falta de conservação, umidade e infiltração, acumuladas durante anos. Até pichação tinha. Os restauradores encontraram os túmulos esverdeados, de tão sujos. As inscrições das lápides estavam ilegíveis, muitas letras foram roubadas. O salão foi recuperado durante o processo de restauração da igreja, entre 1999 e 2002.
Uma equipe formada por 12 profissionais passou dois anos cuidando do lugar. Foi naquela época que encontraram um Cristo de madeira, de 1773. Recuperada, a imagem está em frente à entrada esquerda da cripta, ao lado do altar-mor.
Muitos fiéis costumam acender velas em frente a ele, de costas para a cripta, ignorando que, a poucos passos dali, há uma outra igreja a ser descoberta.
Raio-X da cripta
Área: 619 m²
Pé-direito: 7 m
Abriga: restos mortais de 16 bispos e arcebispos de SP
Lugares (sentados): 56
Visitas monitoradas: de quarta a segunda, das 9h às 17h (suspensas quando há missas das 12h às 13h)
Duração: 30 minutos
Ingresso: R$ 4 (crianças até sete anos não pagam)
Onde fica: catedral da Sé, praça da Sé, s/nº
Informações pelo tel.: 0/xx/11 3107-6832
Reportagem publicada pela Revista da Folha, do jornal Folha de S.Paulo, em 27 de janeiro de 2008
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