REMINISCÊNCIAS DA MINHA INFÂNCIA
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Que saudades tenho do Natal quando eu era pequenino, nos idos anos 50 e primeira metade da década de 60! Nesta época do ano eu ficava sôfrego para ver o Presépio e a árvore de Natal montados, não dando sossego para minha saudosa e adorada mãe, enquanto ela não tornasse um fato meu desejo intenso... Depois de muita insistência da minha parte e muitos pitos da minha genitora, ficava com meus então olhinhos primaveris brilhando, encantado em vê-los montados! Diariamente mudava a posição dos Reis Magos e ficava admirando o Menino Jesus dormindo, ladeado pelos pais, São José e Nossa Senhora...
Também tirava areia, colocava areia, tirava pedrinhas, colocava pedrinhas, movimentava todos os demais personagens do Presépio, fazendo de conta (a exemplo da Emília...) que eles estavam na maior fuzarca... Enfim, este era meu folguedo dileto até o dia 6 de janeiro, quando comemorávamos o Dia de Reis. Claro que fazia tudo isso longe dos olhares coercitivos da minha mãe.
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Havia duas épocas do ano em que imperava o armistício na minha casa, que ficava na Rua Javaés nº 182, Vila Assunção, Santo André, SP - na semana da Quaresma, que antecede o Domingo de Ramos e do início do mês de dezembro até o Dia de Reis. Considero essas épocas como tempos de harmonia porque eu podia fazer as piores traquinagens, sem levar em represália uma bela sova da minha mãe (daria tudo para vê-la novamente, nem que fosse para levar uns tabefes por ter me tornado incrédulo.
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Ainda bem que no dia em que prendi um gato preto que apareceu lá no quintal de casa, no armário que ficava embaixo da pia, colocando, ainda, folhas de jornal em chamas, corria a semana da Quaresma, o máximo que minha mãezinha fez foi me olhar de maneira fulminante e dizer: - Você não perde por esperar... Realmente, no dia seguinte, passados os festejos, levei uma surra inesquecível. Esta foi a pior traquinagem que fiz no meu tempo de pequenino e me causa remorso até hoje. Quando lembro do gato saindo do armário com os olhos esbugalhados, miando assustadoramente e desaparecendo para nunca mais voltar aos meus domínios, me arrepio todo! Aliás, foi o primeiro pecado mortal que confessei antes de fazer a Primeira Comunhão. Bem, esta é uma história que reservo para uma próxima oportunidade, a grande festa da minha Primeira Comunhão, que fiz junto com minha irmã caçula, dois anos mais nova do que eu, a linguaruda da Valquíria...
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Voltando às recordações dos Natais do meu tempo de menino, tenho imensas saudades do glorioso dia em que chegava a Cesta de Natal Amaral, que minha mãe comprava e pagava a prestações o ano todo. Do rádio ouvíamos o anúncio: "Acaba de chegar no meu lar, a cesta de Natal Amaral... É Natal, é Natal, é Natal!"
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Jamais esquecerei o deleite inefável que sentia ao ver aquela cesta mágica aberta, vendo sair um a um, envoltos em tiras de palha, os suculentos e desejados produtos somente consumidos nesta época do ano. Dentro da cesta vinha o gigante Amaral, com a postura firme e a presença marcante, ostentava um sorriso sarcástico e um bigodinho tipo oriental. Com uma faixa no peito, vestia apenas uma sunguinha preta. Um boneco que, na contemporaneidade, considero que era um personagem enrustido. Essa figura bizarra, acreditem, exerceu uma magia inexplicável em toda a minha geração.
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Ah!... As nozes, as castanhas, frutas cristalizadas, o suco de uva, os panetones e outras guloseimas... Meus agora outonais olhos estão marejados ao lembrar-me daquela cena inesquecível. A cesta de vime aberta, trazendo júbilo para um pequenino sempre inquieto e especulador. As cestas de Natal Amaral eram vendidas em vários tamanhos... A nossa não era das maiores, mas estava longe de ser pequena.
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Lembro que as Lojas Americanas, lá da Rua Coronel Oliveira Lima foi inaugurada, se não me engano, no final do ano de 1959 ou 1960, bem perto do Natal. Não me esqueço desta inauguração porque havia uma multidão na loja, e eu estava lá, acompanhado da minha mãe e irmãs... De repente, fui puxado com muita força pelo braço, mas não via quem era. Meu coração começou a disparar e comecei a chorar copiosamente... Sabe quem me puxava?! Querem saber mesmo? Então vou contar! Era meu esforçado pai, que exercia seu ofício de chofer de praça no ponto de táxi, ali pertinho, ao lado do antigo Cine Carlos Gomes, telefone: 44-31-06 (será que se eu ligar, ele atende, este agora reles escrevinhador outonal?!...)
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Jamais esquecerei o empenho do meu amado e saudoso pai para manter a numerosa prole com seu imprevisível ofício porque, apesar das dificuldades, jamais nos faltou o pão de cada dia. Ele era conhecido como Pirapora, pelo fato de ter nascido em Piraporinha, atualmente um bairro da minha amada cidade de Diadema.
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Que delícia lembrar o alarido das nozes, quando as quebrava no vão da porta da sala! Quase sempre íamos à Missa do Galo, lá na Igreja Matriz de Santo André. Numa destas ocasiões dormi no colo da minha mãe e fiz xixi... Não me lembro do fato, mas minha mãe sempre me contava...
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Que alegria imensa era receber os presentes de Natal... Uma vez ganhei um ônibus de madeira bem grande, onde apareciam os passageiros pintados na janela. Depois de muito brincar com ele tive a “brilhante idéia” de abri-lo para tirar os passageiros lá de dentro... Para minha grande decepção não havia ninguém dentro do ônibus. Completando meu desalento, além do ônibus inutilizado, claro que levei um pito daqueles da minha mãe, ainda bem que não foi acompanhado de uma sova...
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Que alegria imensa era receber os presentes de Natal... Uma vez ganhei um ônibus de madeira bem grande, onde apareciam os passageiros pintados na janela. Depois de muito brincar com ele tive a “brilhante idéia” de abri-lo para tirar os passageiros lá de dentro... Para minha grande decepção não havia ninguém dentro do ônibus. Completando meu desalento, além do ônibus inutilizado, claro que levei um pito daqueles da minha mãe, ainda bem que não foi acompanhado de uma sova...
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.Que saudades dos pimentões recheados, lasanha, nhoque, macarrão gravatinha, arroz de forno, polenta, cuscuz, que minha mãe preparava com mais variedade naquela época do ano... Saudades do tempo em que eu era pequenino e um pouco antes de dormir, ouvia aquele famigerado reclame dos cobertores Parayba. Em seguida, travava com meus pais o diálogo obrigatório e respeitoso que hoje não se pratica mais:
JP: Bença mãe...
Mãe: Deus te abençoe, meu filho!
JP: Durma com Deus!
Mãe: Durma também!
JP: Bença pai!
Pai: Deus te abençoe, meu filho!
JP: Durma com Deus!
Pai: Durma também!
Mãe: Deus te abençoe, meu filho!
JP: Durma com Deus!
Mãe: Durma também!
JP: Bença pai!
Pai: Deus te abençoe, meu filho!
JP: Durma com Deus!
Pai: Durma também!
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Que tristeza profunda a dura realidade de saber que nunca, jamais, em tempo algum, ouvirei este diálogo com os meus amados pais... Saudades da risada estrondosa e da proteção do meu pai, da pequena sanfona que ganhei no Natal, além do imenso amor da minha mãe. Atualmente fico profundamente melancólico nesta época do ano e cada vez mais saudoso de uma época feliz, que nunca, jamais, voltará...
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..Agora quem fica atazanando minha esposa para montar o Presépio e a árvore de Natal é minha neta, que exulta, encantada, quando os vê montados, mas para este reles escrevinhador outonal não têm mais nenhum significado...
..Agora quem fica atazanando minha esposa para montar o Presépio e a árvore de Natal é minha neta, que exulta, encantada, quando os vê montados, mas para este reles escrevinhador outonal não têm mais nenhum significado...
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Se pudesse, entraria na película “Laura”, um dos mais conhecidos e venerados filmes da história do cinema, e mandaria para a Cochinchina aquele insulso detetive, tomaria o lugar do sofisticado Waldo Lydecker e ouviria minha estrela dizer: - Venha João Paulo, venha... Iria ao mais profundo estado de deleite inefável por estar ao lado da minha amada imortal para sempre!
Um doce e Feliz Natal para todos vocês!
Um doce e Feliz Natal para todos vocês!
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*João Paulo de Oliveira pertence a uma das mais antigas famílias do Grande ABC, com raízes na Freguesia de São Bernardo. Andreense de nascimento é professor e leciona na Escola Municipal Anita Catarina Malfatti, em Diadema, na Região do ABC Paulista. Ocupa também o cargo de Coordenador Pedagógico na EMEF Dr. Habib Carlos Kyrillos, na Prefeitura de São Paulo. Tem 56 anos, especializa-se no estudo da árvore genealógica familiar. Nas horas de lazer, quando sua mansão no litoral não é invadida por ladrões, busca refúgio nas belas praias do Guarujá. Amigo e colaborar deste blog, João Paulo escreve, pela segunda vez, um artigo neste espaço.
Parabenizo-o pela crônica. Um doce passeio pelo tempo que sua brilhante memória não apagou.
ResponderExcluirLembranças de um garoto que ainda vive e que está sôfrego por contar histórias, permeada de fatos e referências reais. Um escritor romântico, saudosista, de apurado humor e peculiar narrativa. História e arte se misturam, numa gostosa crônica de época.
Um Feliz Natal pra você e sua família.
Oieeeeeeeeeeeeeeeeeeee.
ResponderExcluirMenino,enquanto lia seu relato,me lembrava da minha doce infância,como é bom relembrar...
Beijossssssssssssssss.
ANA CÉLIA DE FREITAS.
Pequenas e "inocentes" coisas, que marcaram a nossa infância e ficaram para sempre inesquecíveis !
ResponderExcluirHoje recordamo-las com saudade e muita nostalgia !
A vida também é feita destas memórias ! :))
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Caros amigos Cristina Fonseca, Ana Célia de Freitas e Rui da Bica!
ResponderExcluirQue bom saber que apreciaram as reminscências do tempo que era pequenino!
Caloroso abraço! Saudações reminiscentes!
Até breve...
João Paulo de Oliveira
Diadema-SP