MISSIVA PÓSTUMA AO MEU BISAVÔ PATERNO, O SR. JOSÉ PEDROSO DE OLIVEIRA (21/09/1846-13/02/1906)
Estimado bisavô José:
O Senhor não vai acreditar, mas se estivesse entre nós completaria, no ano em curso 163 anos. Desde o fatídico dia 13/02/1906, quando o Senhor partiu para o Olimpo, deixando desolados sua esposa Leopoldina, filhos, demais entes queridos, amigos, compadres e os seus confrades da Irmandade do Santíssimo Sacramento, este maltratado e fascinante mundo que agora habito, passou por transformações vertiginosas, que seriam inimagináveis entre seus contemporâneos.
Este seu bisneto, que se atreveu a interromper suas litanias, em louvor ao Santíssimo Sacramento, é neto do seu filho João Paulo de Oliveira. Pois é, respeitável bisavô José, seu neto, Benedito de Oliveira, que veio à luz 13 anos, após sua partida, não acrescentou Neto ao meu nome.
O senhor nem imagina como aquelas máquinas rodantes, que certamente o assombravam, quando ia à cidade, evoluíram. Se eu for lhe contar tudo o que aconteceu depois da sua partida, além de aturdido, o senhor ficaria com a impressão que este seu bisneto precisaria de bênçãos especiais, com óleos consagrados, ministrados pelo padre Tomás Inocêncio Lustosa.
Sabe aquele aparelho que o nosso querido imperador D. Pedro II ficou fascinado, porque permitia falar com outras pessoas em outros locais? O Senhor nem imagina como se aperfeiçoaram, porque agora cabem na palma da mão e funcionam sem fio, podendo ser transportados para qualquer lugar, permitindo que as pessoas se comuniquem com outras em qualquer localidade do planeta. Também existe uma máquina eletrônica que transformou radicalmente o nosso modo de vida. Calma, meu bisavô, já disse que não preciso dos préstimos do padre Lustosa, porque o que lhe digo é realidade na contemporaneidade.
Outro fato, que acontece agora, e tenho certeza que o deixará exasperado sobremaneira... Os homens dedicados à medicina descobriram um remédio, que permite às mulheres, que o ingerir, com regularidade, não gerarem filhos.
Bisavô, ô bisavô, perdoe-me se o fiz perder os sentidos, momentaneamente, mas é a pura verdade. Já que o Senhor teve esta reação, então é melhor nem lhe contar, que pessoas do mesmo sexo, vivem juntas, isto mesmo, de maneira carnal. Em alguns países esta união, que aos seus olhos beatos Mariano, é uma aberração, tem o valor de um casamento.
Outro fato, que acontece agora, e tenho certeza que o deixará exasperado sobremaneira... Os homens dedicados à medicina descobriram um remédio, que permite às mulheres, que o ingerir, com regularidade, não gerarem filhos.
Bisavô, ô bisavô, perdoe-me se o fiz perder os sentidos, momentaneamente, mas é a pura verdade. Já que o Senhor teve esta reação, então é melhor nem lhe contar, que pessoas do mesmo sexo, vivem juntas, isto mesmo, de maneira carnal. Em alguns países esta união, que aos seus olhos beatos Mariano, é uma aberração, tem o valor de um casamento.
Por Baco e Afrodite, que rebuliço causei entre os confrades da Irmandade do Santíssimo, que foram acudir meu bisavô, porque agora ele demorou para recuperar os sentidos.
(Ché, então é melhor nem lhe contar que este seu bisneto vê com naturalidade estas uniões, porque senão ele pensará que seus descendentes ficaram degenerados. Já pensou então se eu lhe contar sobre o ménage à trois?)
Perdoe-me respeitável bisavô, por ter-lhe ocasionado uma síncope. Acho melhor não lhe contar outros fatos que acontecem agora na Terra, porque se eu lhe dizer que o homem já foi à Lua, o senhor dirá que este seu descendente direto é um lunático. Bem, é melhor mesmo parar de falar da contemporaneidade, principalmente em relação a religião, porque nosso amado Império, digo, país deixou de ser predominantemente católico e várias seitas exploram a fé alheia, com o escopo mercantilista.
Vamos falar agora do seu tempo de vivência.
Como o Senhor foi aceito na Irmandade do Santíssimo, se na sua certidão de nascimento não consta o nome do seu genitor? O Senhor nem imagina como tento descobrir indícios para saber quem foi este homem, não obtendo êxito, que não teve a hombridade de dar-lhe seu nome. Será que seus outros irmãos eram filhos dele? Ah, sua irmã Francisca é minha trisavô materna. Isto mesmo, meus adorados e saudosos pais eram primos em 4º grau. Está vendo? Sua mãe, a Sra. Joaquina Maria do Espírito Santo é minha tatataravô paterna e concomitantemente mãe da minha tataraavó materna. Credo, bisavô, até este seu bisneto, que é um reles escrevinhador outonal e insulso professorzinho primário fica confuso, quando pensa nisto.
O Senhor me desculpe, mas sou muito especula ou então melhor dizendo muito inquiridor.
Então se prepare:
O Senhor me desculpe, mas sou muito especula ou então melhor dizendo muito inquiridor.
Então se prepare:
O Senhor era amigo ou conhecido do Dr. Flaquer, do Coronel Oliveira Lima ou da professora Hermínia Lopes Lobo?
O Senhor foi na inauguração da estrada de ferro, construída pelos fleumáticos ingleses e inaugurada em 1867 ou na solenidade de abertura do Museu Paulista, mais conhecido como Museu do Ipiranga, em 1895?
Teve muito falatório no enterro do padre Lustosa, em 1892?
Como o Senhor recebeu o Regime Republicano, instaurado em 15/11/1889, porque tenho a impressão que continuou assecla da Monarquia?
É verdade que o Senhor foi obrigado a participar da grande guerra, hoje chamada de Guerra do Paraguai ou Guerra da Tríplice Aliança?
O Senhor ouviu falar de um cidadão inglês, o notável Charles Darwin, que chegou a visitar nosso Império, digo, República? O motivo da pergunta é porque ele publicou um livro versando sobre a teoria da evolução das espécies, que ainda causa polêmica, nos dias em curso, em virtude de afirmar que não fomos criados a imagem e semelhança de Deus, além de sustentar que somos descendentes dos seres vivos que surgiram no mar?
Não sei se o Senhor tinha o domínio da leitura e escrita, em caso afirmativo, encomendava, quando ia à cidade e depois lia as obras dos memoráveis escritores Machado de Assis, Edgar Allan Poe, Fiódor Dostoievski, Gustave Flamber, Oscar Wilde, Conan Doyle?
O Senhor foi na inauguração da estrada de ferro, construída pelos fleumáticos ingleses e inaugurada em 1867 ou na solenidade de abertura do Museu Paulista, mais conhecido como Museu do Ipiranga, em 1895?
Teve muito falatório no enterro do padre Lustosa, em 1892?
Como o Senhor recebeu o Regime Republicano, instaurado em 15/11/1889, porque tenho a impressão que continuou assecla da Monarquia?
É verdade que o Senhor foi obrigado a participar da grande guerra, hoje chamada de Guerra do Paraguai ou Guerra da Tríplice Aliança?
O Senhor ouviu falar de um cidadão inglês, o notável Charles Darwin, que chegou a visitar nosso Império, digo, República? O motivo da pergunta é porque ele publicou um livro versando sobre a teoria da evolução das espécies, que ainda causa polêmica, nos dias em curso, em virtude de afirmar que não fomos criados a imagem e semelhança de Deus, além de sustentar que somos descendentes dos seres vivos que surgiram no mar?
Não sei se o Senhor tinha o domínio da leitura e escrita, em caso afirmativo, encomendava, quando ia à cidade e depois lia as obras dos memoráveis escritores Machado de Assis, Edgar Allan Poe, Fiódor Dostoievski, Gustave Flamber, Oscar Wilde, Conan Doyle?
Como era sua comunicação com o imigrantes italianos, que falavam daquele jeito enrolado?
Como foi que o Senhor conheceu sua esposa, minha bisavó Leopoldina Maria Fagundes de Oliveira?
É verdade que onças rondavam sua casa grande, na calada da noite, no início do seu casamento?
Quem me contou este fato, foi a minha dileta e saudosa tia Noêmia de Oliveira Fabrini, sua neta, que viveu com sua esposa, quando era pequenina. Ela também me contou que sua mãe, minha tataravô, Joaquina Maria do Espírito Santo, estava nas cercanias do sítio em que morava, em Piraporinha, quando foi raptada por um cavaleiro, tendo como consequência seu nascimento. É verdade? Quem foi este cavaleiro misterioso? Será que ele também foi pai dos seus outros irmãos? O Senhor ouviu falar do cinematógrapho, quando ia à cidade? O Senhor não vai acreditar, mas nas terras que lhe pertenciam, bem como nas terras dos seus demais familiares, amigos e compadres, vivem na atualidade milhões de pessoas. Lembra daquele pedaço de terra que o Senhor doou ao Clero, mandando ainda construir uma Igreja em homenagem ao Bom Jesus, possibilitando o surgimento de um povoamento? Pois é, bisavô José, agora este pedaço de terra é o centro de um próspero bairro chamado Piraporinha, que pertence ao pujante município de Diadema-SP, contando com aproximadamente 400.000 habitantes. Aliás, todos aqueles sítios de propriedade dos seus parentes, amigos e compadres, se transformaram em grandes cidades, para ser exato sete cidades, onde moram mais de 2.500.000 de habitantes. A cidade que o Senhor ia para visitar parentes, fazer negócios e trazer provisões, tem mais de 10.000.000 de moradores. Não é assombroso, bisavô?
Como foi que o Senhor conheceu sua esposa, minha bisavó Leopoldina Maria Fagundes de Oliveira?
É verdade que onças rondavam sua casa grande, na calada da noite, no início do seu casamento?
Quem me contou este fato, foi a minha dileta e saudosa tia Noêmia de Oliveira Fabrini, sua neta, que viveu com sua esposa, quando era pequenina. Ela também me contou que sua mãe, minha tataravô, Joaquina Maria do Espírito Santo, estava nas cercanias do sítio em que morava, em Piraporinha, quando foi raptada por um cavaleiro, tendo como consequência seu nascimento. É verdade? Quem foi este cavaleiro misterioso? Será que ele também foi pai dos seus outros irmãos? O Senhor ouviu falar do cinematógrapho, quando ia à cidade? O Senhor não vai acreditar, mas nas terras que lhe pertenciam, bem como nas terras dos seus demais familiares, amigos e compadres, vivem na atualidade milhões de pessoas. Lembra daquele pedaço de terra que o Senhor doou ao Clero, mandando ainda construir uma Igreja em homenagem ao Bom Jesus, possibilitando o surgimento de um povoamento? Pois é, bisavô José, agora este pedaço de terra é o centro de um próspero bairro chamado Piraporinha, que pertence ao pujante município de Diadema-SP, contando com aproximadamente 400.000 habitantes. Aliás, todos aqueles sítios de propriedade dos seus parentes, amigos e compadres, se transformaram em grandes cidades, para ser exato sete cidades, onde moram mais de 2.500.000 de habitantes. A cidade que o Senhor ia para visitar parentes, fazer negócios e trazer provisões, tem mais de 10.000.000 de moradores. Não é assombroso, bisavô?
Sabe bisavô, graças ao empenho de um descendente daquela família italiana, os Medicis, que certamente tinham membros na sua Confraria da Irmandade do Santíssimo Sacramento, o Senhor não caiu no esquecimento, porque vira e mexe ele fala do Senhor, numa coluna dedicada a Memória, escrita por ele, num periódico chamado New Seller, digo, Diário do Grande ABC. O nome dele é Ademir Medici.
Que tal bisavô José deixar de lado, momentaneamente, estas litanias Marianas e flanar pelo Olimpo? Afinal, já são mais de 103 anos que o senhor ai se encontra e acredito que nunca saiu desta ala da morada dos deuses, cercado de beatos e anjinhos barrocos. O Senhor não fica entediado? O Senhor nem imagina o que está perdendo não visitando outros lugares desta morada eterna.
Tem uma ala, onde vivem eternamente representando, atores e atrizes que foram astros e estrelas, na fascinante Arte das Imagens em Movimento, que no seu tempo era conhecido como cinematógrapho, bem como outros que se dedicaram ao Teatro, como por exemplo, a notável atriz Cacilda Becker, que foi tão brilhante que Dionísio não resistiu de tão encantado que ficou com ela e resolveu antecipar sua partida para o Olimpo, com o escopo de ter o deleite exclusivo em vê-la atuando eternamente, em peças memoráveis, como: “A Dama das Camélias”, “Pinga Fogo”, “A Visita da Velha Senhora”, “Esperando Godot”. Ah, bisavô, tem uma atriz, que atuou no cinematógrafo, que sou vassalo mor e fã ardoroso número 1, o nome dela é Gene Tierney. Caso o Senhor aceite minha atrevida sugestão de conhecer estas outras alas olimpianas, e a encontre, diga-lhe que seu bisneto, quando aí chegar, ficará a sua inteira disposição, servindo-lhe uvas e vinhos, além de atender todos os seus divinais desejos.
Acho até louvável sua dedicação a sua Confraria , mas perdoe-me novamente pelo atrevimento, não encare seu bisneto como má influência ou sob o domínio de Mephisto, mas o Senhor precisa ampliar suas perspectivas eternas.
Sabe, honorável bisavô, o Senhor deixou dezenas de descendentes, que não sei precisar com exatidão, mas acredito que somente este seu bisneto, que além de um reles escrevinhador é um insulso professorzinho primário, cultua sua memória e o tem em alta estima e consideração, apesar do século que nos separam. Em sua homenagem reformei novamente seu jazigo, no sepulcrário da Vila Euclides, na parte reservada à Irmandade do Santíssimo, colocando ainda seu retrato, acompanhado de uma placa, que além dos seus dados, informa que o senhor foi o fundador de Piraporinha. Foi muito emocionante quando meu saudoso pai patrocinou a primeira reforma do seu jazigo, nos idos anos de 1985, porque quando seus despojos mortais foram exumados, segurei seu crânio...
Sabe o que me deixa dolorido sobremaneira, bisavô José? É saber que após a minha ida ao seu encontro, certamente serei esquecido pelos meus descendentes. Ó dia... Ó céus... Ó vida... Ó ano... Ó dor...
Querido bisavô, enquanto eu viver, o Senhor viverá na minha memória! Sua benção, bisavô José Pedroso de Oliveira! Não esqueça deste seu bisneto nas suas litanias.
Caloroso e afetuoso abraço, deste seu bisneto que nunca o viu e sempre o amou!
Saudações respeitosas e tierneyanas
Até breve...
João Paulo de Oliveira
Saudações respeitosas e tierneyanas
Até breve...
João Paulo de Oliveira
PS – (Acho melhor não lhe dizer que tornei-me incrédulo, depois que meu adorado e saudoso pai também foi ao seu encontro...)
un saludo profesor desde las islas canarias
ResponderExcluirBoa noite meu amigo.
ResponderExcluirFiquei emocionada ao ler essas ternas palavras escritas com muito carinho para o seu bisavô,saibas que ele está muito orgulhoso de você.
Certamente ele se tornou uma pessoa inesquecível,pois contribuiu com o social.
Abraçosssssssssssssssss.
Ana Célia.
Querido professor..
ResponderExcluirEsta carta, mais que uma merecida homenagem ao seu bisavô, é uma aula de história.
Tenho certeza que ele, gostou de receber estas noticias e saber que grandes mudanças sociais e tecnológicas ocorreram desde sua partida.
E mais feliz deve ter ficado, ao saber que contribuiu para este desenvolvimento, como fundador da cidade de Piraporinha.
Parabéns e vida eterna para seu bisavô. Que sua alma esteja em perene paz.
bjos