domingo, 12 de outubro de 2014

Memórias do tempo

Caros confrades/passageiros!
Com a devida anuência do valoroso, culto e tarimbado escritor luso luís rodrigues coelho Coelho, tenho a grata satisfação de publicar neste vagão do Expresso do Oriente uma encantadora crônica de sua lavra. A fotografia também é da lavra do escritor.
Aproveito o ensejo para convidá-los a conhecer seu imperdível blog: http://luisrcoelhohotmailcom.blogspot.com.br

"Aconteceu naquela tarde de Agosto. O tempo estava a mudar. Algumas gotas  de chuva anunciavam a mudança. O Verão ia ser duramente ferido na sua beleza. O calor e o azul dos dias tornava-se agora cinzento, húmido e muito desagradável.
Mesmo assim, apesar de toda a mudança, decidimos sair. Hoje é Domingo, é dia de descanso.
- Vamos dar uma volta, beber um café, arejar as ideias... Sei lá...Vamos por aí...

Parámos aqui perto. Depois fiquei a olhar para o que sobrou daquela casa em frente. Tirei a máquina fotográfica e fiz um clic.
Aquelas ruínas mexeram comigo. Muitas vezes olhei e não vi nada, mas hoje foi diferente. Parece que habituámos o nosso olhar a uma rotina. Depois  não conseguimos ver mais do que uma imagem repetida.

Conheci esta casa ainda com vida. Chegou a ser «Uma casa de pasto» Taverna. Agora restam algumas paredes.
Todos os meses no dia 26, era dia de Feira. Eram dias de grande movimento. Na taverna não havia mãos a medir. Aviavam-se copos de vinho ou um traçadinho, uma ginja, uma aguardente ou outra bebida a gosto.
Algumas vezes acompanhavam as bebidas com bolos secos ou com passas de figos maduros. Faziam cama para a bebida e ao mesmo tempo selavam um negócio. A compra de uma junta de bois ou de outros animais. 

Ao longo da estrada 109 havia tendas de roupa e toda a sorte de louça de barro. Viam-se ainda as panelas de ferro e todas as ferramentas para os trabalhos agrícolas encostadas aos muros ou distribuídas ao longo dos passeios. 

As mulheres das Aldeias vizinhas alinhavam-se no meio das barracas ou nos espaços vazios mostravam lindos galos caseiros, coelhos ou patos e para completar aqueles pequenos espaços viam-se ainda algumas sacas com sementes. Vendiam também hortaliças, cebolas, batatas ao alqueire (medida convencionada). Estava tudo em exposição. Elas iam oferecendo a quem passava em frente: - Então freguês hoje não compra nada? Está tudo muito barato...Aproveite agora...
   
Depois alguém se lembrou de mudar o local da feira para o interior da mata - Charneca, onde não prejudicasse o trânsito nem os residentes.  
Não sei o que aconteceu, mas a casa de primeiro andar fechou. O tempo, a chuva e o vento foram transformando as paredes e minando o seu interior.
As últimas pessoas que ali se abrigaram eram pobres. Viam-se despidas de roupas e de higiene. 
Os miúdos, semi-nús, brincavam na encosta a Sul por entre algumas couves mais altas que eles  e onde uns cães esqueléticos lhes lambiam as mãos e o rosto. Um dia também eles partiram. 
Finalmente vieram umas máquinas e demoliram a parte da frente daquela casa. Havia o risco de derrocada para a estrada nacional.

Hoje restam estes pedaços de paredes, portas e janelas que conservam as marcas do abandono.  Talvez um dia as máquinas voltem para limpar o que sobra daquela casa e as últimas memórias da Feira dos vinte e seis.
luíscoelho"
"


6 comentários:

  1. Apenas desejo que cada pessoa ao passar por aqui que faça uma boa viagem ao seu passado e que seja generosamente feliz.
    Do passado guardamos as memórias. Para o futuro construímos sonhos de Paz e concórdia.

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  2. Caro confrade luís Coelho!
    Grato pelos auspiciosos votos!
    Caloroso abraço! Saudações esperançosas!
    Até breve...
    João Paulo de Oliveira
    Um ser vivente em busca do conhecimento e do bem viver sem véus!

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  3. Caro Prof
    O autor recorda tempos idos!
    É bem fazermos estas «viagens» e lembrarmo-nos de como era a vida naquelas épocas!
    Um abraço
    Beatriz

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  4. O blogue do luís, e os escritos dele, são imperdíveis, Amigo João Paulo de Oliveira.
    Aquele abraço e votos de boa semana

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  5. Cara confrade Beatriz de Bragança!
    Seu patrício é um escritor supimpa!
    Caloroso abraço! Saudações talentosas!
    Até breve...
    João Paulo de Oliveira
    Um ser vivente em busca do conhecimento e do bem viver sem véus!

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  6. Caro Amigo Pedro Coimbra!
    Reitero o que disse para a nossa querida confrade Beatriz de Bragança.
    Caloroso abraço! Saudações escritoras!
    Até breve...
    João Paulo de Oliveira
    Um ser vivente em busca do conhecimento e do bem viver sem véus!

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