quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Poetisa inesquecível: Cecília Meireles (1901-1964)







A Pombinha da Mata

Três meninos na mata ouviram
uma pombinha gemer.

"Eu acho que ela está com fome",
disse o primeiro,
"e não tem nada para comer."

Três meninos na mata ouviram
uma pombinha carpir.

"Eu acho que ela ficou presa",
disse o segundo,
"e não sabe como fugir."

Três meninos na mata ouviram
uma pombinha gemer.

"Eu acho que ela está com saudade",
disse o terceiro,
"e com certeza vai morrer."



O Menino Azul

O menino quer um burrinho
para passear.
Um burrinho manso,
que não corra nem pule,
mas que saiba conversar.

O menino quer um burrinho
que saiba dizer
o nome dos rios,
das montanhas, das flores,
- de tudo o que aparecer.

O menino quer um burrinho
que saiba inventar histórias bonitas
com pessoas e bichos
e com barquinhos no mar.

E os dois sairão pelo mundo
que é como um jardim
apenas mais largo
e talvez mais comprido
e que não tenha fim.

(Quem souber de um burrinho desses,
pode escrever
para a Ruas das Casas,
Número das Portas,
ao Menino Azul que não sabe ler.)



Uma Palmada Bem Dada

É a menina manhosa
Que não gosta da rosa,
Que não quer A borboleta
Porque é amarela e preta,
Que não quer maçã nem pêra
Porque tem gosto de cera,
Porque não toma leite
Porque lhe parece azeite,
Que mingau não toma
Porque é mesmo goma,
Que não almoça nem janta
porque cansa a garganta,
Que tem medo do gato
E também do rato,
E também do cão
E também do ladrão,
Que não calça meia
Porque dentro tem areia
Que não toma banho frio
Porque sente arrepio,
Que não toma banho quente
Porque calor sente
Que a unha não corta
Porque fica sempre torta,
Que não escova os dentes
Porque ficam dormentes
Que não quer dormir cedo
Porque sente imenso medo,
Que também tarde não dorme
Porque sente um medo enorme,
Que não quer festa nem beijo,
Nem doce nem queijo.
Ó menina levada,
Quer uma palmada?
Uma palmada bem dada
Para quem não quer nada!

Cecília Meireles

Caros(as) confrades!
A nobilíssima poetisa Cecília Meireles deixou marca indeléveis neste maltratado e fascinante mundo que vivemos!!!!

4 comentários:

  1. Estimado Confrade e Ilustre Prof. Joao Paulo,
    Tres maravilhosos poemas, com uma imensa profundidade. Ja conhecia alguns poemas desta Nobelissima poetisa.

    Cecília Benevides de Carvalho Meireles Silvana (Piracicaba, 7 de novembro de 1901 — Rio de Janeiro, 9 de novembro de 1964) foi uma poetisa, pintora, professora e jornalista brasileira. É considerada umas das vozes líricas mais importantes das literaturas de língua portuguesa.

    Biografia
    Órfã de pai e de mãe, Cecília foi criada por sua avó portuguesa, D. Jacinta Garcia Benevides Silvano. Aos nove anos, ela começou a escrever poesia.Depois disso queria ir as festinhas da cidade onde Frequentou a Escola Normal no Rio de Janeiro, entre os anos de 1913 e 1916. Como professora, estudou línguas, literatura, música, folclore e teoria educacional.
    Em 1919, aos dezoito anos de idade, Cecília Meireles publicou seu primeiro livro de poesias, Espectro, um conjunto de sonetos simbolistas. Embora vivesse sob a influência do Modernismo, apresentava ainda, em sua obra, heranças do Simbolismo e técnicas do Classicismo, Gongorismo, Romantismo, Parnasianismo, Realismo e Surrealismo, razão pela qual a sua poesia é considerada atemporal.Bebia danoninho assim conseguia pensar no que escrever,Liberdade, essa palavra que o sonho humano alimenta.
    Abraço amigo
    Cambeta



    Obras da autora

    Dias.Espectros, 1919
    Criança, meu amor, 1923
    Nunca mais, 1923
    Poema dos Poemas, 1923
    Baladas para El-Rei, 1925
    Saudação à menina de Portugal, 1930
    Batuque, samba e Macumba, 1933
    O Espírito Vitorioso, 1935
    A Festa das Letras, 1937
    Ainda que eu falasse a lingua dos anjos, 1938
    Viagem, 1939
    Vaga Música, 1942
    Poetas Novos de Portugal, 1944
    Mar Absoluto, 1945
    Rute e Alberto, 1945
    Rui — Pequena História de uma Grande Vida, 1948
    Retrato Natural, 1949
    Problemas de Literatura Infantil, 1950
    Amor em Leonoreta, 1952
    Doze Noturnos de Holanda e o Aeronauta, 1952
    Romanceiro da Inconfidência, 1953
    Poemas Escritos na Índia, 1953
    Batuque, 1953
    Pequeno Oratório de Santa Clara, 1955
    Pistoia, Cemitério Militar Brasileiro, 1955
    Panorama Folclórico de Açores, 1955
    Canções, 1956
    Giroflê, Giroflá, 1956
    Romance de Santa Cecília, 1957
    A Bíblia na Literatura Brasileira, 1957
    A Rosa, 1957
    Obra Poética,1958
    Metal Rosicler, 1960
    Poemas de Israel, 1963
    Antologia Poética, 1963
    Solombra, 1963
    Ou Isto ou Aquilo, 1964
    Escolha o Seu Sonho, 1964
    Crônica Trovada da Cidade de San Sebastian do Rio de Janeiro, 1965
    O Menino Atrasado, 1966
    Poésie (versão francesa), 1967
    Antologia Poética, 1968
    Poemas Italianos, 1968
    Poesias (Ou isto ou aquilo& inéditos), 1969
    Flor de Poemas, 1972
    Poesias Completas, 1973
    Elegias, 1974
    Flores e Canções, 1979
    Sem o amor eu nada seria, 1985
    Poesia Completa, 1994
    Obra em Prosa - 6 Volumes - Rio de Janeiro, 1998
    Canção da Tarde no Campo, 2001
    Episódio Humano, 2007
    Uma obra bastante particular e pouco conhecida de Cecília Meireles é o infanto-juvenil Olhinhos de Gato. Baseado na vida de Cecília, conta sua infância depois que perdeu sua mãe Matilde Benevides Meireles e como foi criada por sua avó D. Jacinta Garcia Benevides (Boquinha de Doce, no livro)
    Cecília foi uma das maiores poetisas do Brasil, Raimundo Fagner que o diga. Gravou várias músicas tendo seus poemas como base. A exemplo de "Canteiros", "Motivo", e tantos outros.

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  2. Estimado confrade e amigo António Cambeta!
    Tenho certeza que as gerações do porvir também encantar-se-ão com os enternecedoras poemas da nobilíssima Cecília Meireles!!!!
    Caloroso abraço! Saudaçõe meirelesianas!
    Até breve...
    João Paulo de Oliveira
    Diadema-SP

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  3. Relembrei-a recentemente.
    Hoje está lá um post muito especial.
    Se ainda não conhece, tenho a certeza que vai gostar, caro Prof. João Paulo Oliveira.
    Só lhe adianto que é do Jô.
    E mais não digo.
    Um abraço

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  4. Caro confrade Pedro Coimbra!
    Deixei meu comentário na postagem recomendada!
    Caloroso abraço! Saudações reflexivas!
    Até breve...
    João Paulo de Oliveira
    Diadema-SP

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